O 17.º Congresso Internacional de Jornalismo da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) reuniu de 3 a 7 de agosto, mais de 200 palestrantes nos formatos on-line e presencial, na FAAP, em São Paulo. O evento trouxe à tona os temas que mobilizaram a sociedade nos últimos meses, além de técnicas e apurações em ascensão no mundo do jornalismo.
Com isso, o combate à desinformação não ficou de fora e teve como palco central duas mesas on-line sobre “Como desmontar uma desinformação eleitoral”, além das oficinas presenciais “Técnicas de Checagem” e “Eleições 2022: desinformação e ameaças à democracia”.
Nessa, o evento levou de encontro aos jornalistas e estudantes, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Barroso, e as jornalistas Cristina Tardáguila, fundadora da Agência de Checagem Lupa; Daniela Lima, apresentadora da CNN Brasil; Luciana Garbin, editora executiva e colunista do Estadão, professora e coordenadora da FAAP; e Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha de São Paulo.
Quando questionado sobre o “inquérito das fake news”, que corre no STF, o ministro Barroso disse que “com a intensificação dos ataques à democracia e ameaça às instituições, ele acabou se mostrando um instrumento necessário”. “A democracia tem de se proteger”, destacou.
Ao ser indagado sobre ataques que de fato o machucavam, Barroso disse que o que lhe fere é apenas a mentira. “A única coisa que fere é a mentira, se for verdade não tem problema. Nunca na minha vida me arrependi de atuar com boa fé e com integridade e não acredito que o mal possa mais do que o bem. É preciso recuperar o peso da verdade”, ressaltou o ministro.
Desinformação em ano de eleições
Como as eleições de 2018 foram marcadas pela polarização brasileira, em 2022, o desafio de combater a desinformação é visto em uma crescente diante da demanda de conteúdo mentiroso, que chega com facilidade aos brasileiros.
Não à toa, Sérgio Lüdtke, editor do Projeto Comprova, o qual mediou oficinas on-line sobre desinformação eleitoral, elevou o tema com os participantes Alessandra Monnerat, editora-assistente do Estadão Verifica e colaboradora do Projeto Comprova; Bernardo Barbosa, editor de checagem de fatos da Reuters no Brasil; Raphael Kapa, coordenador de Educação da Lupa, Luisa Alcantara e Silva, colaboradora do Projeto Comprova pela Folha de S.Paulo; e Pablo Fernandez, editor e repórter da BandNews FM e verificador do Comprova.
Tecnologia x Conteúdo simples
Eles lembraram que apesar de toda a tecnologia utilizada pela rede de desinformação, como é o caso das “deepfake”, em período eleitoral, os conteúdos com maior potencial de dano ainda são “os mais simples”.
“Quando chegam as eleições a gente vê que ainda está caindo em mentiras muito simples, que são as correntes de WhatsApp, pequenas imagens manipuladas tiradas de contexto. Eu sempre bato na tecla que o muito simples ainda é um problema. Porque antes mesmo da manipulação de vídeo e de técnicas mais avançadas, a gente tem problema em textos de correntes que não têm autoria, nas imagens retiradas de contexto e viralizadas também com legendas que podem levar à desinformação e recortes de entrevistas sem o contexto total. Com um olhar mais atento, a gente consegue combater, mas ainda é o nosso grande desafio”, alerta Raphael Kapa.
Já Alessandra Monnerat lembrou que “o que preocupa são boatos sobre urnas eletrônicas e o processo eleitoral e que a gente tem dificuldade de checar justamente porque a nossa principal fonte é o TSE, que é colocado sob suspeita por pessoas que compartilham esse tipo de boato”.
Desinformação nas redações
O trabalho de checagem já tem como braço algumas redações brasileiras. Mas, o modelo tradicional de jornalismo declaratório ainda ajuda a propiciar a desinformação. Raphael Kapa acredita que o modelo do jornalismo antigo ainda contribui para isso.
“A gente vive uma lógica imediatista do jornalismo e há o jornalismo declaratório. Mas é nesse imediatismo e nessa lógica declaratória que a desinformação se expande rapidamente em processo eleitoral. Porque primeiro a gente sobe o declaratório e depois a checagem”, explica.
Já Bernardo Barbosa diz que “os políticos entenderam a lógica da comunicação, eles não dependem tanto da imprensa quanto antes, eles têm as suas redes. Então, nós como jornalistas, às vezes caímos nos mesmos truques. Quem passa pelo trabalho de checagem acaba tendo mais sangue frio, de ter um olhar mais ponderado com o declaratório”.
Para a jornalista Luísa Alcântara, colaboradora do Projeto Comprova pela Folha de S.Paulo, a pandemia da Covid-19 fez com que nos últimos anos a checagem de fatos se tornasse mais atuante nas redações dos jornais. “Estamos vendo um movimento nas redações. Não tem como as redações negarem e não cobrirem a desinformação. As redações tiveram que olhar conteúdos que desinformam e entraram muito nesse mundo. A pandemia fez com que olhassem isso e teve um movimento de dar mais importância para a checagem. O próprio projeto Comprova tem mais veículos de comunicação participando”, pondera a jornalista.
Com Informações da LabJor Faap/ Laryssa Toratti
Foto principal: Laryssa Toratti/ Jornalismo FAAP