No sábado,19 de junho, o novo Coronavírus fez o Brasil bater um recorde histórico com a marca de 500 mil mortes. E no mesmo dia desse triste registro, milhares de brasileiros foram às ruas protestar e pedir por celeridade nas vacinas, empregos, comida, investimento em educação e saúde e ações para frear a pandemia.
Mais de 500 erros
Entre tantas manifestações, uma, em especial, faz refletir sobre o que levou o Brasil a ocupar o segundo lugar no ranking de números absolutos de vítimas por Covid-19 no mundo.
“Onde erramos?”, estampava a faixa fincada nas areias de Copacabana, no Rio de Janeiro, onde a Ong Rio de Paz promoveu uma ação em memória das vítimas e em repúdio ao modo de gestão do Governo Federal e como parte da sociedade vem tratando a pandemia.
Percurso do erro
E, onde, de fato, erramos? O erro não pode ser atribuído ao singular, pois assim como o vírus, ele é coletivo. Iniciou em 2020 com pífias políticas públicas de combate à doença, com o desdém à letalidade da Covid-19, com o desincentivo ao uso das máscaras, ao distanciamento social, com a falta de empatia. O erro permeou brigas políticas, polarizou grupos de esquerda e direita, foi palco de pronunciamentos públicos, virou bandeira partidária. O erro foi chamado de comunismo e ou de bolsonarismo.
O erro foi às ruas. Não fechou nem abriu portas, não respondeu e-mails de compra de vacinas, não tomou a liderança frente à guerra contra a doença. O erro foi a eventos públicos cheios, abraçou e beijou crianças e idosos, passeou entre as gotículas das pessoas sem máscaras, andou em ônibus lotados, visitou praias cheias no fim de ano, se perpetuou na volta precoce às aulas presenciais. Andou de carro, aglomerou em avião, fez motociata.
O erro também descredibilizou o jornalismo, chamou emissoras de “lixo”, atribuiu aos jornalistas o sensacionalismo perante à pandemia e preferiu desligar a televisão para não se informar, com a desculpa de poupar a saúde mental. O erro minimizou os efeitos da economia, fez dos brasileiros mais pobres, mais famintos, sem casa, sem renda e sem emprego.
Gripezinha e “mimimi”
O erro curtiu restaurantes e baladas cheias, fez festas clandestinas e achou que era “só uma gripezinha”. O erro ainda prioriza as festinhas, os churrascos e visitas sem proteção em família, está conectado nos grupos de WhatsApp que espalham notícias falsas sobre a pandemia. Ah…o erro apoia o negacionismo e joga a culpa por ora no empresariado, ora nos governadores e nos prefeitos. O erro discute sobre a cloroquina, quer escolher vacina e propaga a desinformação sobre elas.
O erro chama de “mimimi” quem tem medo da Covid-19. O erro minimiza os efeitos colaterais do Coronavírus, os traumas geracionais e as consequências psicológicas da situação pandêmica.
Livre arbítrio
O erro e o vírus se confundem. Eles estão nas escolhas, no livre arbítrio para alguns e na obrigação diária para outros. No mais, cada vez que alguém diz não existir erros ou culpados, mais um brasileiro morre vítima dessa doença rápida, cruel e devastadora.
O erro é meu. É seu, é nosso! E está ao nosso lado, por onde andamos, se não nos cuidarmos e nos omitirmos.
Fotos: Rio de Paz