Mais de 4 milhões de pessoas deixaram de tomar a segunda dose da vacina contra a Covid-19 dentro do prazo estabelecido no país. Elas fazem parte do “abandono vacinal”, termo utilizado para descrever o atraso para a imunização com a segunda dose de uma das vacinas, ou o esquema incompleto de vacinação. Os dados podem ser consultados na plataforma Our World in Data.

Certamente, esta ação é resultado de uma série de motivos que caracterizam o cenário social e político brasileiro em 2021, a incluir a falta de vacinas disponíveis, o medo de reações adversas, além da desinformação em saúde. Essa última, e não menos importante, está ligada à informação falsa sobre a pandemia e à crença em dados sem comprovação científica.

Até o dia 14 de junho, mais de 55 milhões de pessoas tomaram a primeira dose das vacinas contra a Covid-19 no Brasil. São 55.740.512 primeiras doses aplicadas. Já a segunda dose foi aplicada em 23.742.688, o que corresponde a 11,21% da população. Ou seja, um número ainda baixo, diante da atual situação pandêmica.

“Vai virar jacaré”

A desinformação em saúde, no Brasil, não é exclusiva apenas dos grupos de WhatsApp. E durante a pandemia, ela tem contribuído para o chamado “negacionismo”. Seja pela letalidade da doença, pela ciência, pelo uso de máscaras, pelo tratamento adequado, por recomendações médicas e pela vacina. O negacionismo mascara as verdades.

A propagação da notícia fraudulenta e da negação surge de onde não deveria existir. Na contramão da defesa pela ciência, o presidente da República, Jair Bolsonaro, por exemplo, já declarou que “quem tomasse a vacina contra a Covid-19 viraria jacaré”. Mais recentemente, alegou que chás indígenas combateram o vírus e ajudaram no tratamento de duas etnias. E afirmou: “E eu pergunto: a vacina tem comprovação científica ou está em estado experimental ainda? Está em estado experimental”, destacou o presidente.

Em todas essas falas, é importante deixar claro que há mentira.

Bolsonaro afirmou também, em mais um episódio, que não compraria “vacinas chinesas”, descredibilizando, inclusive, o que é fabricado no país e colocando em dúvida, à população, a eficácia de tal imunizante. Desinformação pura.

Isso porque todas as vacinas aprovadas no Brasil, de forma definitiva ou emergencial pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) passaram por diversas fases de pesquisa para comprovar sua eficácia.

Nessa semana, a polêmica surgiu em torno da atriz Fernanda Torres, a qual divulgou publicamente, que havia procurado outro imunizante, que não fosse o da Astrazeneca / Fiocruz, para ser vacinada, em função do medo de desenvolver trombose.

Após o fato tornar-se público e gerar debates, ela se manifestou em suas redes sociais e defendeu o imunizante, admitindo que a situação criada contribuiu com o negacionismo. “O fato tornou-se público e contribuiu para alimentar o negacionismo, criando uma desconfiança infundada em torno da Astrazeneca, uma vacina extremamente eficaz e segura”, disse a atriz.

Punição para desinformação em saúde

Ao avesso das desinformações, em maio, o Instituto DataSenado realizou uma pesquisa com 2.500 pessoas de 16 anos ou mais, que mostra a percepção do brasileiro a respeito das notícias falsas durante a pandemia. 

A maioria dos brasileiros (58%) afirma ter identificado alguma notícia falsa sobre a vacina contra a Covid-19 nas redes sociais e 44% diz ter recebido alguma notícia de que a vacina pode trazer prejuízo à saúde.

E para 85% da população, a divulgação de notícias falsas prejudica muito o combate ao Coronavírus; e 92% dos brasileiros acham que quem divulgar notícias falsas sobre a vacina deve ser punido.

Além da punição, a qual é alvo de longa discussão, é fundamental sempre, que os mentirosos e propagadores de notícias falsas sejam desmascarados. Porque assim, a desinformação pode ser alertada, cortada pela raiz e até mesmo encerrada.

Mentira mata

A CPI da Covid-19, também conhecida como “CPI das mentiras”, tem a cada depoimento, uma enxurrada de mentiras para checar. Durante sua passagem pela CPI, a microbiologista Natália Pasternak fez questão de falar sobre as consequências do negacionismo e informações falsas. “Negar a ciência e usar esse negacionismo em políticas públicas não é falta de informação, é uma mentira e, no caso triste do Brasil, é uma mentira orquestrada, orquestrada pelo Governo Federal e pelo Ministério da Saúde. E essa mentira mata, porque ele leva pessoas a comportamentos irracionais, que não são baseados em ciência”, declarou.