É praticamente um senso comum que o brasileiro lê pouco, pelo menos é isso que as pesquisas feitas por diversos institutos indicam anos após ano. Aqueles que estiveram presentes em um dos dias da Bienal do livro de 2023, realizada no Rio de Janeiro, puderam testemunhar como a literatura tem o poder de mover as pessoas.
Logo de cara, a localização do evento já demonstra que é preciso ter amor pela leitura para se deslocar até o Riocentro, local onde a feira é realizada, em terras cariocas.
O mega polo de eventos, dividido em três pavilhões, fica localizado na Barra da Tijuca, em uma área mais afastada do bairro e bem distante das áreas centrais da cidade, o que para apaixonados leitores poderia ser um impeditivo para ir até o festival.
Mesmo com esse longo caminho a ser percorrido, o que se viu ao longo desses 10 dias foram pavilhões cheios. Adultos, crianças, famílias e, principalmente, jovens inundaram de esperança os olhos de quem acredita que a educação e a leitura são pilar fundamental para a criação de uma sociedade mais democrática.
Contrariando os números que dizem que os brasileiros leem em média cinco livros por ano (dados da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil), o que se viu foram leitores saindo com sacolas, malas, coleções e dezenas de livros.
Além disso, as longas filas para pegar um autógrafo e tirar uma foto com autores do mundo todo foram destaque. Segundo a organização do evento, mais de 300 escritores estiveram presentes em mais de 200 horas de programação.
Ao contrário de outras edições, marcadas por polêmicas como a da censura imposta pelo prefeito da cidade na época, Marcelo Crivella, este ano o evento ocorreu em paz, sem complicações. A cultura, diversidade e pluralidade de visões foram marca registrada deste ano.
O polêmico deputado Nikolas Ferreira viu de perto como a Bienal é aberta a todos. Ele, que esteve no evento autografando exemplares do livro ‘O Cristão e a Política’, foi, ao mesmo tempo, hostilizado por parte do público presente e ovacionado por admiradores que formaram uma longa fila para receber uma dedicatória nos exemplares da obra escrita por Nikolas. O que mostra como o evento é um local democrático, em que a liberdade de opiniões encontra espaço.
Ver os encontros de leitores, debates, conversas, rodas literárias e novas propostas para a forma de consumir literatura mostra como o brasileiro, mesmo contra toda a falta de estímulo, ainda acredita no livro. Encontrar tantos jovens durante esses dias fez as minhas esperanças na educação serem renovadas, ainda existem muitos desafios, tanto de acesso, quanto de estímulo à leitura, mas existe esperança.
A palavra ainda tem força e move as pessoas.