Os versos da canção “Sou a Barbie Girl”, um hit dos anos 2000 da cantora Kelly Key, definem a personagem título da música como “uma flor delicada demais”. De uma forma bem humorada, divertida e cativante, a diretora do longa “Barbie” de 2023, Greta Gerwig, mostra como a icônica boneca, símbolo de várias gerações, pode ser ressignificada e ganhar novos tons além do tradicional rosa.

Com inspiração em obras que vão desde Matrix, Show de Truman, O Mágico de Oz e o mito da caverna de Platão (origem da maioria dessas obras), a diretora, ao lado do roteirista Noah Baumbach, apresenta nossa heroína vivendo em um mundo perfeito até que a personagem interpretada por Margot Robbie começa a questionar sua própria existência. Isso acaba obrigando a personagem a embarcar em uma aventura no mundo real para descobrir a origem desse sentimento que ela nunca havia experimentado.

Partindo dessa premissa, Greta Gerwig usa o que poderia ser mais um filme comum, sobre um personagem marcante da cultura pop mundial, para falar sobre temas como amadurecimento e encontrar seu papel no mundo, mas principalmente sobre como nossas vidas são baseadas, muitas vezes, em seguir algo pré-estabelecido por figuras poderosas que estão à nossa volta, sejam elas nossos pais, familiares, professores, políticos e até sistemas econômicos.

Tudo isso é feito em praticamente duas horas de exibição, que poderiam ser definidas como o puro suco do entretenimento. O filme tem um senso de humor preciso e faz o espectador estar sempre com um sorriso no rosto. Quando Barbie e Ken vêm para a terra, temos diversos momentos cômicos gerados pela proposta absurda da obra, mas que mesmo assim, nunca deixam o seu discurso questionador de lado.

Desde a estreia de Barbie, muitas pessoas têm falado que o melhor filme de boneco do ano será sobre uma boneca. Isso, caso aconteça, será, ao meu ver, pelo fato de que os realizadores da obra não tiveram medo de apostar no absurdo e tiveram certeza das ideias que levariam à tela. Em tempos onde o cinema parece cada vez mais feito de plástico, Greta Gerwig usa a artificialidade da Barbie para falar sobre a profundidade do ser humano e suas questões.

Uma celebração da diversidade, empoderamento e da liberdade de ser quem realmente somos. Um filme com uma mensagem poderosa que ecoa além da tela do cinema, inspirando a todos a abraçar suas individualidades e questionar os padrões que ainda permeiam nossa sociedade.